Cartografia Ativa se propõe contribuir com as reflexões sobre a realidade brasileira a partir de leituras geográficas que têm como ponto de partida a elaboração e interpretação de mapas temáticos diversos. É um “trampo” realizado hoje a quatro mãos, sem vínculos institucionais, que surgiu a partir da vontade de produzirmos coletivamente materiais cartográficos utilizando as variadas fontes de dados estatísticos e espaciais disponíveis. “Espacializar para compreender!” Esse é nosso mote!
Esse projeto surgiu em plena crise sanitária, social e econômica decorrente da pandemia do Covid 19, durante o mês de abril de 2020. A imprensa brasileira, talvez a mundial, concentrou seus esforços em dados absolutos de número de infectados e de óbitos nas escalas global, nacional e estadual, na velocidade do contágio e na avaliação das políticas públicas. Analises contextualizadas espacialmente a partir de fatores relacionados aos sistemas de saúde e as condições de contágio da Covid 19 mostraram-se cada vez mais necessárias. A partir dessa constatação, as conversas informais foram se conformando na construção de um projeto que pretende contribuir com a produção de materiais cartográficos e reflexões geográficas sobre fenômenos como a pandemia da Covid 19, mas também outros de relevância social e política.
A proposta parte da ideia que o mapa não é um ponto de chegada, mas de partida para compreendermos a realidade. Nesse sentido, a partir da divulgação de mapas e análises geográficas, a Cartografia Ativa busca se somar não apenas as denúncias das desigualdades sociais e espaciais, tão característica da sociedade brasileira, mas também a apontar possibilidades de intervenções por parte do poder público, de movimentos sociais e de coletivos.
A Cartografia Ativa se inspira na tradição da Geografia crítica que se volta para as demandas sociais, não se satisfazendo com a descrição ou o academicismo. A seguir segue um trecho do Prefácio do livro “Geografia Ativa”, escrito por Pierre George, Raymond Guglielmo, Bernard Kayser e Yves Lacoste nos anos 1960, que expõe um pouco dos princípios desse projeto:
"A administração dos bens e dos homens, nesta segunda metade do século XX, deixa cada vez menos lugar ao imprevisto, ao acaso e à improvisação reparadora de inconsequências preliminares. [...]
Tudo deve ser reconsiderado, os limites, os métodos, os objetivos, a competência, as relações com outras disciplinas, que desempenham uma relação às outras o papel de ciências auxiliares, o lugar e a segurança da previsão. Uma legítima ambição de servir leva a anteceder qualquer adiamento. Disso resulta confusão, desordem, conflitos de atribuição.
Não é possível hoje fazer boa administração em escala pública ou privada, sem uma sólida cultura geográfica [...]. Mas a maioria dos homens chamados a tomar responsabilidades não conheceram da Geografia senão a forma elementar de uma geografia escolar descritiva e enumerativa e ignoram o que, na medida das suas necessidades pressentes, a geografia lhes pode oferecer.[...]"
É preciso transgredir!